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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Desatino

Tudo começa com ele, aquele calmo e tímido som, que aos poucos me carrega dos sonhos para o mundo real. É o alarme do celular a me despertar, e o toque diferente do habitual indica que é final de semana.

Abro os olhos. Visão ainda embaçada, mas funcional o suficiente para notar que Ela ainda está dormindo. Não há jeito melhor de se acordar do que ao lado de quem a gente ama. E essa moça, deitada aqui comigo, ah... eu realmente sinto algo por ela que pode ser chamado de "amor".

Amor por seus cabelos loiros que se estendem perfeitamente no meu travesseiro. Amor por seus olhos claros que me permitem ver um mundo todo por eles. Amor por toda a personalidade e coração  que ela tem, compactados nos seus um metro e sessenta de altura. E, claro, amor simplesmente por eu saber que nada do que eu disse acima, nem do que poderia dizer, seria suficiente pra exemplificar o que ela significa pra mim.

Ela acorda. Agora são dois bobos sonolentos, cada um admirando o outro. Aquele sorriso gostoso e um "bom dia" preguiçoso, que garantem felicidade pela semana toda. O beijo, então, este garante paz por toda uma vida — ou pelo menos me transmite essa sensação.

Meus olhos se fecham novamente e, abraçado a ela, penso apenas que poderia ficar assim pelo resto do dia. Ou o resto do mês. Talvez da vida, por que não?

Tudo começa com ele... aquele calmo e tímido som. Tudo termina com eles: o silencio e o vazio, pesados como uma onda que te joga para o fundo do oceano. Te jogam para sua triste realidade.

Quando abro os olhos, como uma faca, empunhada pelo destino, a saudade fere meu coração. Não há ninguém na cama.

Já fazem três anos desde que Ela se foi, mas as vezes ainda recebo a sua visita.

Bem vindo ao meu delírio.

— Hugo Lima